quarta-feira, 20 de março de 2013

Ligando a vitrola


Os tão famosos, guardados e esquecidos, LPs.


Já faz algum tempo que eu queria revirar esses discos. Bem, eu moro com os meus avós e isso faz com que eu tenha algumas coisas antigas e um certo conhecimento sobre elas. Dentre essas coisas antigas, estão os discos de vinil do meu avô. Eles ficam guardados comigo já, há algum tempo, no entanto eu nunca os analisei como queria, e hoje (especialmente para esse post) eu dei uma reviradinha de leve e trouxe algumas coisas para vocês verem.

Pra quem não sabe (eu duvido que haja alguém que não saiba, mas enfim, é sempre bom ter uma introdução), discos de vinil -conhecidos também como LP- é uma mídia desenvolvida no final da década de 40 para reprodução musical. Assim como os CDs, fitas de áudio (quando eu era criança elas ainda eram usadas, pois é), e hoje em dia pendrives e celulares, né? 
O aparelho usado para reproduzir as músicas do vinil é o toca-discos, mais conhecido como vitrola. 

Esse é a vitrola do meu avô, a última que sobrou, rs. E, infelizmente, ela não está funcionando, mas em breve esse problema será resolvido (eu espero).
Não vou entrar em detalhes como esse aparelho funciona, mas é interessante dar uma pesquisada no Google, recomendo!

Voltando aos discos do meu avô, eu encontrei muitas coisas bacanas e divertidas. Bem, a maioria é MPB (samba principalmente), tem alguns internacionais e umas misturas bizarras. Mas creio eu, que os discos mais legais e ~importantes~ ficam guardados nos álbuns, que eu não consegui abrir (e acho que nem deveria ter me atrevido a tentar), mas numa próxima eu tento.
Esses são os tão temidos, obscuros e secretos álbuns. Um dia eu descubro o que eles guardam, rs.

Os primeiros que eu peguei para ver e fotografar, foram os "mini-vinis". Bem, eu os chamo assim, mas se não me engano a classificação dos vinis por tamanho é 12, 10 e 7 polegadas, sendo assim, esses abaixo os de 7 polegadas:

Esse disco vermelho, adivinhem só, é um disco infantil da história da baratinha! HAHAHAH, sério gente. Eu lembro que ouvia bastante ele (e uns outros que eu não achei) mas agora não consigo me lembrar da história, senão até faria uma sinopse.
Ainda nos discos de 7 polegadas, eu achei um que costumava ficar o dia inteirinho na vitrola...

A Sinfonia Dos Canários. Essa era a musiquinha de fundo da casa, normalmente. Confesso que era de certa forma irritante, porque pensem: eu moro numa rua super movimentada, acostumada desde que nasci a ouvir barulho de carros, caminhões, ônibus e etc, daí, de repente, vem o canto de passarinhos de uma maneira tão forçada, hahaha. Irritava, mas é bonitinho de se ouvir, traz uma certa tranquilidade.

Agora, de todos os vinis de 7 polegadas o que me chama mais atenção não é nem um disco, é uma capa! 

Eu AMO essa capa. Esse monte de cores, esses desenhos remetendo às décadas passadas. Essa vibe toda "e aí, broto legal?", adoro isso. O disco que tá aí dentro, provavelmente, não é o pertencente à capa. Eu não achei o disco dessa capa e nem faço ideia de qual seja (carece de informações, perdoem), mas que a capa é legal, ah, é! Eu até fotografei cada "personagem" disso aí, separadamente e fiz uma colagem, pra ficar mais fácil a visualização.
              "Disco é cultura beleza." "Quem não gosta de música É CARETA."


Entre os grandes vinis de 12 polegadas, eu encontrei alguns que me deram vontade de fotografar, rs. 





(clique nas imagens para ampliá-las)

Esse primeiro disco é uma regravação de músicas de Gilberto Gil, Chico Buarque de Hollanda e Caetano Veloso, por Claudette Soares, cantora brasileira (apelidada de Princesinha do Baião, por Luiz Gonzaga) apresentada no programa A Raia Miúda, na década de 50.

O segundo disco é de um festival de música popular, com orquestra sinfônica, contendo Polonaise Em Lá Bemol Maior, de Chopin.

E o terceiro disco contém algumas músicas do grupo vocal The Platters, da Era do Rock n' Roll, na década de 50. Pra quem não conhece, foi formado em Los Angeles em 1953, por Tony Williams, David Lynch, Alex Hodge. Passando por várias alterações ao longo dos anos. Chegou a vender mais de 53 milhões de discos e está no Rock And Roll Hall Of Fame desde 1990.



























Esse é o segundo disco do Roberto Carlos, Jovem Guarda, lançado em 1965. Eu, particularmente, gosto dele por causa dessa primeira música aí: Quero Que Vá Tudo Pro Inferno


"Quero que você me aqueça nesse inverno/ E que tudo mais vá pro inferno!"

E, pra fechar com chave de ouro esse post, quero mostrar um encarte/livreto de um disco, que eu simplesmente amei (meu lado de aspirante à designer se sobressaindo novamente).
O disco se chama "100 Anos de Samba" (se não me engano, não é apenas um disco, são vários), e contém inúmeros sambas de vários artistas brasileiros.

Eu tomei a liberdade, mais uma vez, de fazer uma colagem para a melhor visualização. A arte desse encarte é linda, simples, P&B e fantástica. Dá vontade de desmontar e colocar de papel de parede no quarto, sério! E depois dessa pesquisa de hoje, eu realmente me animei pra arrumar a vitrola e comprar uns LPs (corre pros sebos, galerë).

Bom é isso, espero que tenham gostado do post de hoje, a primeira curiosidade sobre o mundinho que me cerca. Devo dedicar (acho meio estranho isso, mas enfim) esse post ao meu amigo Lucas Pessoa, que vive querendo saber dos discos que eu tenho aqui, haha, de certa forma, contruibuiu pra ideia do post.

キスキス Hyume-chan

terça-feira, 5 de março de 2013

Coloque as pedras na frente do sol


Era uma cidade grande e fria, caracterizada por seus invernos rigorosos. Lá, por meados de Julho, no meio do frio intenso, haviam muitas pessoas concentradas no centro histórico da cidade, estavam visitando uma feira que acontecia regularmente. 
Duas pessoas andavam apressadas no meio da feira, mãe e filha. A pequena garota mal entendia o que acontecia no local, apenas observava o tanto que podia à medida que era arrastada pela mãe. Subitamente soltou-se de sua mãe e correu em direção à uma barraquinha um tanto quanto estranha. Haviam poucas pessoas concentradas no local, mas o que chamou a atenção da menina foram alguns potes dispostos em cima de uma banca em frente à barraca. Eram potes de conserva com fetos abortados e órgãos humanos. A garota os olhava apavorada, seus olhos refletiam o conteúdo dos potes e ela parecia não acreditar no que via.
Ouviu-se um barulho e uma senhora encapuzada virou-se para o público. A menina recuou alguns passos, mas seu olhar não se desviara dos potes. A senhora encapuzada esticou uma seda branca por cima da banca, ao lado dos potes. Então a garota desviou o olhar para o rosto da senhora, só podia ver da altura do nariz para baixo. Se assustou com a aparência dela, uma pele pálida, surrada pelos anos de vida.
A misteriosa senhora pegou um dos potes, o que continha um cérebro, e abriu. Colocou o cérebro sob a seda branca e ficou observando-o. As pessoas em volta começaram a rir e gritar alguns insultos, mas a garota observava atentamente o que a senhora fazia. Passado alguns segundos, a senhora tirou de dentro da capa um pequeno frasco com um líquido cor de ametista, o abriu e derramou sobre o cérebro. Aquele líquido escorreu e preencheu todas as pequenas cavidades daquele órgão. A senhora então, enfiou os dedos e começou a dividí-lo em duas partes. Dentro do cérebro já repartido, haviam pequenas pedrinhas, e a senhora tirou uma por uma e levou-as para os fundos da barraca. 
A mãe da menina a procurava desesperadamente por entre as barraquinhas, perguntando à todas as pessoas se a tinham visto, porém não obteve nenhuma resposta satisfatória.
A garota estava bem em frente à banca, onde estava o cérebro divido. O líquido cor de ametista continuava a escorrer pelo cérebro, passando pela seda e pingando ao chão. A menina não entendia muito bem as coisas, mas achou um tanto quanto curioso aquele líquido continuar escorrendo do cérebro ao chão, sem tingir a seda branca. 
Passaram-se poucos minutos e a senhora encapuzada voltou. Colocou as duas partes do cérebro de volta ao pote e o tampou. Pegou a seda e a chacoalhou ao lado da barraca e em seguida a esticou novamente por sobre a banca. Lentamente ela foi tirando alguns colares e os colocando sob a seda branca. Eram seis colares, tendo como pingentes as pedras retiradas do cérebro. Mas ainda havia um na mão da senhora encapuzada. Ela ainda o amarrava, prendendo bem a pedra à corda trançada. Ao terminar seu trabalho, ela fechou o colar em sua mão e ofereceu à garota. A menina hesitou por um momento, mas pegou o colar. Inclinou suavemente a cabeça, em agradecimento, e a senhora a fez sinal para ir.
Assustada, a menina correu desesperada, esbarrando nas pessoas, sem saber para onde ir. Encontrou uma ruazinha vaga, sem muitas pessoas e desceu por ela. Ouviu sua mãe chamá-la a avistou ao lado de uma viatura da polícia, com os olhos cheios de lágrimas. A mãe da menina correu até ela a abraçou, perguntou por onde andou e tratou logo de levá-la para casa. Durante todo o caminho a garota não proferiu uma única palavra, e sua mãe a olhava com certa desconfiança. A garota estava de punhos cerrados em seu colo, escondendo o colar.
A menina chegou em casa e foi direto para o quarto, trancou a porta e sentou na cama. Abriu a mão e começou a analisar o colar. Era uma pedra lisinha, parecia uma bola cortada ao meio, pouco transparente e vermelha, bem vermelha. Funcionava como uma pequena lupa, aumentando bem as letras à medida que passava por elas, e as distorcendo segundos depois. A menina levantou-se e foi até o espelho da penteadeira, colocou o colar no pescoço e decidiu que jamais o tiraria, era algo raro e estranho, se tentasse explicar sabia que ninguém entenderia ou acreditaria.
Estava exausta, o dia tinha sido muito cheio e corrido, deitou-se na cama e ficou a observar o pequeno raio de sol que entrava pela janela. Haviam dias que não se via o sol na cidade, por conta do rigoroso inverno. Sentia suavemente aquele calorzinho que o raio de sol trazia ao tocar sua pele. Adormeceu.
Passaram algumas horas e a menina levantou rapidamente. Estava com as mãos em seu pescoço e carregava uma expressão de dor em seu rosto. Correu até a penteadeira e soltou as mãos do pescoço, havia um ferimento bem profundo, que dava meia volta em torno de seu pescoço. Arrancou o colar e o jogou no chão. Chorando, foi buscar a ajuda de sua mãe. Foi levada ao médico, para examinar e fazer um curativo. Teve de levar alguns pontos no pescoço e várias vezes ouviu os enfermeiros dizerem como tinha tido sorte de não ter perfurado uma artéria. A garota repetia incessantemente que não sabia como tinha acontecido, apenas havia acordado com o ferimento, mas sua mãe insistia em melhores explicações. 
Voltaram para casa e a menina foi descansar, novamente. Era noite, ela se dirigiu ao quarto, acendeu a luz e imediatamente avistou aquele pequeno objeto ao chão. Pegou o colar e o colocou dentro de uma bolsa. Foi uma noite intensa, com poucas horas de sono e nessas poucas horas muitos pesadelos. Logo que amanheceu, ela saiu de casa carregando o colar. Foi até o centro histórico da cidade, devolvê-lo. Caminhou por todos os lados mas não encontrou a barraquinha da senhora encapuzada, decidiu então perguntar às pessoas, mas nenhuma delas se lembrava dessa tal barraquinha misteriosa. Desanimada continuou a andar por entre as barraquinhas do centro histórico, tentando encontrar uma explicação para tudo que lhe vinha acontecendo. Apareceu um raio de sol por entre as nuvens, naquele dia de inverno ainda rigoroso. A garota pegou o colar e ergueu na altura dos olhos, olhando a pedra iluminada pelo sol. Parecia que dentro dela tinham pequenas poeirinhas brilhantes, como uma galáxia dentro da pedra. Essa visão encantou a garota, que sentiu um enorme desejo em jamais se desfazer do colar e decidiu que aceitaria isso. Mas todo o encantamento fora quebrado abruptamente quando a garota percebeu que a sua pedra já não era mais vermelha, estava num tom claro de rosa. Já não era de se esperar que coisas estranhas acontecessem àquele objeto, mas a mudança de cor a intrigou. Seus olhos foram incapazes de perceber essa mudança, em um segundo era vermelha no outro cor-de-rosa.
Decidiu ir para casa, e guardou o colar na bolsa. Deslizou os olhos pela ruazinha de pedras do centro histórico, rapidamente, mas tempo o suficiente para notar algo diferente. Três pedrinhas da rua tinham uma tonalidade diferente, como se houvessem sido manchadas por uma tinta que impregnou na pedra, tornando-a púrpura. Logo lhe veio à mente a imagem da senhora encapuzada chacoalhando a seda branca ao lado da barraca. Agachou-se para poder examinar bem as pedras, viu algo na superfície de uma delas que pareciam ser letras, mas não pôde ler. Lembrou-se da função de lupa que a pedra exercia, e, rapidamente, a tirou da bolsa e passou por cima da pedra. Com certa dificuldade, a garota levou alguns minutos para identificar as letras e lê-las, quando finalmente conseguiu, não entendeu o que queria dizer. "Murex brandaris", estava escrito. Anotou a palavra em um bloco de notas que carregava consigo, levantou-se e foi para casa.
Passaram-se dias, meses, anos e a menina continuava a visitar o centro histórico regularmente, em busca da senhora encapuzada e de respostas para o que lhe havia acontecido. As pedras cor de púrpura iam, à medida que o tempo avançava, voltando à sua cor original, e as inscrições, que numa delas continha, haviam desaparecido completamente.
Pesquisou algumas vezes, e descobriu a origem da inscrição que encontrou na pedra. Era o nome científico de um molusco do qual se extraía o pigmento púrpura. Aprofundou a pesquisa e encontrou uma antiga lenda de uma minúscula ilha - que nunca fora confirmada a existência - no mar Mediterrâneo. 
A lenda das pedras de Assiah.
Uma garota que encontrava as pedras desconhecidas, em lugares nunca revelados, que mostravam lugares do mundo, e além dele, dentro delas. Era só colocar a pedra na frente do Sol, e algo grandioso você conheceria. Uma lenda, apenas uma lenda.
A garota guardou o colar consigo, como havia decido naquele dia de inverno rigoroso no meio do centro histórico da cidade. Mas, com o passar do tempo, deixou de procurar pela senhora encapuzada e a pesquisar sobre as lendas e mistérios que podiam envolvê-la. Mas todos os dias se lembrava, ao olhar no espelho e se deparar com aquela cicatriz ao redor do pescoço, de que coisas surreais acontecem e não devem ser subestimadas.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

漫画: 01# - Fushigi Yuugi



みなさん、こんばんは!



(Esse é meu primeiro post para o Forgotten Queen, me foi cobrado que postasse algo novo hoje, porém ainda estou com as minhas ideias novas em andamento, então peguei esse post que já estava pronto e fez parte de um antigo blog, apenas para "marcar presença")




Esse é o primeiro post da série 漫画, onde eu postarei alguns títulos que eu gosto, que eu tenho interesse em ler ou que eu queira compartilhar algum fato importante. Pois bem, o título de hoje é ~~~~~~~~~~~ 

                     
                                      Fushigi Yuugi! (ふしぎ遊戯)
   



Eu ouvi algumas pessoas falarem de Fushigi Yuugi inúmeras vezes, mas nunca me interessava realmente para ler. Até que um dia eu estava andando pelo centro da cidade e entrei em um sebo e lá estava ele, o mangá de nº1 de Fushigi Yuugi, olhando para mim. Hesitei por um momento, mas resolvi comprar. Li o mangá dentro do ônibus enquanto voltava para casa, amei a história. Continuei lendo a história na internet ~rsrsrs~ mas depois de um tempo parei, don't know why. Foi aí que outro dia, andando pela cidade encontrei outro sebo e foi lá que eu encontrei a edição de colecionador com os seis últimos volumes do mangá, bem aonde eu tinha parado. Comprei e terminei de ler, finalmente 




• Fushigi Yuugi é o mangá de maior sucesso criado por Yuu Watase (também conhecida por Ayashi no Ceres e Zettai Kareshi), foi publicado no Japão de 1992 a 1995, o mangá fez tanto sucesso que até hoje é produzida uma saga chamada Fushigi Yuugi Genbu Kaiden.

Mas vamos ao que realmente interessa... 
Fushigi Yuugi conta a história de Miaka Yuki, uma estudante preocupada com seu teste de admissão no colégio. Um dia Miaka decidiu estudar na biblioteca com sua amiga, Yui. Miaka avistou uma ave vermelha e resolveu seguí-la, a ave entrou em uma sala onde a entrada era proibida à pessoas não autorizadas, mas Miaka entrou assim mesmo. Miaka encontrou Yui e resolveu contar para ela da ave e então, de repente, caiu um livro da estante e as duas, muito curiosas que são, decidiram lê-lo. Yui percebeu que o título estava escrito em chinês antigo, o livro chamava-se " O Universo Dos Quatro Deuses". Assim que Yui começou a lê-lo, elas foram transportadas para dentro do livro, que tinha o ambiente da China Antiga onde se passa a história. 
 Com o decorrer da história as personagens começam a 'perambular' pelos dois mundos o que causa uma certa instabilidade no mundo humano. 
Fushigi Yuugi além de um mangá emocionante, de certa forma cômico, com lutas, buscas e mistérios ainda ressalta uma linda (e complicada, rs) história amor. 
 Fica a dica, caso você ainda não tenha lido. E se você for daquelas pessoas que preferem ver o anime, corram pros downloads, pois ele existe! ~qqq

キス キス~ Hyume-chan




quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Me diz: o que dizer?


Andando vagamente por um lugar qualquer, carregando um livro em uma das mãos e mexendo constantemente no cabelo com a outra. Balbuciava algumas palavras vãs, e expressava vigorosamente sua aflição. 
Parou em um bar, pediu uma bebida. Pousou o livro sobre o balcão, sentou-se e ficou ali esperando seu pedido chegar.

 - Da mais forte, por favor. 

A bebida chegou e ela tratou logo de acabar com tudo no primeiro gole. E assim se sucedeu nas seguintes seis doses. Totalmente desnorteada, começou a  conversar com a bebida, sua melhor amiga no momento.

- Eu sei, vou ficar aqui, acabada, largada na rua. Quem se importa? Não pedi pra se importar, eu pedi? Não, não pedi. Talvez seja esse o meu erro: não te pedi nada. Fiquei com medo de que você se sentisse sufocado, eu sei que você não queria se sentir assim. Te dei a liberdade, esperando que você preferisse desfrutá-la ao meu lado. Eu devia ter te pedido, qualquer coisa, só pra você saber que eu precisava que fizesse algo por mim, por mais fútil que fosse. 

As pessoas ao redor a olhavam pelos cantos dos olhos, e riam, discretamente, da embriaguez da moça. Um garçom chegou até ela e perguntou se precisava de ajuda para ir para casa, ela recusou, dizendo que ainda não estava satisfeita, e logo, pediu mais doses de vodka.

- E agora? Me diz: o que dizer? O quê? Falar com um copo de vodka, eu falo, grito, reclamo, desabafo. Mas sabe como é falar olhando fundo nos olhos de alguém? Por que eu detesto as coisas ditas com os olhos voltados para o chão. Mas quem olharia para o chão agora? Eu. Por que diabos esses olhos tem que mostrar tanto de alguém pra outro alguém? Nem óculos escuros disfarçam. Alguém devia rever o projeto do corpo humano, refazer isso aí, tem muita coisa errada. Aliás, tem muita coisa errada no ser humano, e a maior parte nem é nessa coisa de "fisicamente", tá nessa tal de mente. Uma mente que mente e desmente, que às vezes nem sabe mentir. 

Virou o copo, e pediu mais uma dose, para que pudesse continuar a sua conversa.

- Eu acho que devíamos todos ser bebidas alcoólicas. Olhem só que vida boa vocês tem! Ficam aí, envelhecendo pra melhorar a qualidade, e quando saem para o mundo, afogam em suas gotas alcoolizadas toda a desgraça mundial. Vocês são a solução pro desespero humano, pras desilusões, pro ódio, pra mim e pra você. E encorajam. Talvez seja por isso que eu vim buscá-las hoje. Me deem coragem! Eu preciso, não pra lutar numa guerra mundial ou salvar uma criança se afogando numa piscina. Preciso me salvar, preciso abrir essa boca e dizer o que eu tenho pra dizer. 
Foi no final de agosto, eu acho. Não estou em condições mentais de me lembrar. Eu jurei, por deuses, que jamais cairia nessa desgraça de abismo novamente. Quem disse que minhas juras são levadas a sério? Ah, por favor, eu te disse pra não acreditar.
Agora me diga, eu fui ou não fui transparente nas palavras? Eu disse, eu sei que disse! Inúmeras vezes, mesmo contra a minha vontade. Sabe quantas coisas eu fiz contra a minha vontade? Todas e nenhuma. Porque o "contra a minha vontade" na verdade era a minha vontade não revelada, envergonhada. Eu sabia que era um problema, desde o início. Mas eu gosto de problemas, eu gosto do díficil, ruim, complicado, errado, perigoso, escondido. Eu gosto disso, e foi por isso que eu me arrisquei. Ninguém entendia porque eu agia dessa forma, e entendiam ao mesmo tempo, não queriam acreditar no que acontecia. Maldito fim de setembro. Aquelas palavras que ficaram me rodeando a mente até quando as chances haviam desaparecido. Eu não posso dizer que não pensei em desistir, porque pensei e até tentei. Mas parecia que ia dar certo algum dia, e deu. Devia ter dado, não sei. 

Bebeu novamente, e pediu mais.

- Eu preciso acabar com esse silêncio. Meus ouvidos não aguentam mais a falta de palavras, a falta dos murmúrios. Você podia reclamar de mim, fazer aquelas acusações idiotas, falar e não dizer nada, zombar de qualquer porcaria desse mundo, mas fale! Fale! Não me faça ter que pedir pra falar. Lembra que eu nunca te pedi nada? Lembra que foi esse o meu erro? Afinal, você lembra de alguma coisa? Você se importa com alguma coisa? Não, não se importe. Era isso que eu tinha pensado, era essa a condição. Não devemos nos prender. Não queremos.
Só que eu não penso como uma prisão, é só, sei lá. Não sei definir, e tenho medo de dizer, de te fazer entender. Você pode rir, sei lá, mas eu cheguei a pensar que pudesse dar certo. Eu tentei esquecer durante uns meses aí, eu tive oportunidade de te substituir, por alguém bem próximo por sinal. Sabe o que eu fiz? Recusei. Inventei desculpas, fiz alguém se sentir mal porque eu não podia te substituir assim. É lógico que você não tinha nada a ver, nem sabia direito, mas eu não podia. É, eu funciono assim. Estranha, idiota, incompreensível. Agora me explica, o que você tem de tão especial? Quantos como você eu podia encontrar por aí? Minha vida mudou de rumo, por que eu precisaria de você? Eu preciso. Porque, eu sou assim, estranha, idiota, incompreensível. Porque foi assim, e assim você fez com que eu me interessasse, portanto, o problema é seu. 

Bebeu sua última dose àquela noite. Pagou a conta, pegou seu livro e continuou seu monólogo pelas frias calçadas no centro da cidade.

- Eu sabia desde o início. Me mostrou um mundo de possibilidades, de novidades. Fez eu me sentir uma adolescente em suas aventuras bizarras e imorais. Eu te disse que eu gostava dos culpados. E a mente que mente e desmente, dessa vez não mentiu. Em todas as vezes não mentiu, nem nas que tentou mentir. Eu sinto que estraguei uma parte importante da sua vida, e se eu pudesse, faria tudo diferente. Porque eu já tinha escrito mil histórias de como isso deveria acontecer, e no final, saiu tudo fora do roteiro. E você me fez gostar de não seguir o roteiro. Mas não teve a mesma importância pra você, creio eu. 
Não é como se prender, não tem aquelas frescuras, enfim, é só saber que eu te pertenço e que podia ser assim até o fim. Pertencer não tem que ser necessariamente prender, estar o tempo todo com, não deixar respirar fora do aquário. É estar em qualquer lugar que esteja, e saber que tem pra onde voltar, pra quem voltar. Saber que tem quem vai ouvir, quem vai rir, quem vai se interessar pela novidade que você tem pra contar, quem vai debater sobre esses assuntos complicados com você. É saber que tem alguém, que te tem, que você tem. Uma mesma ideia.

Foi caminhando por uma rua escura e pouco movimentada. Parou em frente à uma casa e deixou no chão o livro.

- Nunca me dei bem com esse tipo de coisa. Fui lá tomar, literalmente, "a coragem". Queria olhar nos seus olhos, esses olhos que mudam de cor frequentemente de um jeito engraçado, e dizer tudo, e quem sabe, ver com os meus olhos, esses meus olhos sem graça que nem de cor mudam, um sorriso se abrir no seu rosto, feliz com as palavras que você queria ouvir. Mas me restou um pouco de consciência, talvez a bebida não estivesse devidamente envelhecida, e essa consciência me disse que talvez eu visse seu olhar se desviar para o chão. E você sabe, como eu odeio as coisas que são ditas olhando para o chão. Não quero te odiar, por mais que você me odeie. Então decidi que o mais sensato, fosse que seus olhos, que mudam de cor frequentemente, deslizassem pelas minhas palavras, escritas sob gotas alcoólicas que salvam o mundo das desilusões, e entendessem o que eu queria te dizer. Eu inventei uma história, porque nem através das palavras e devidamente alcoolizada eu sou capaz de admitir. Mas você, e seus olhos que mudam de cor, vão entender, vão se localizar. 
Só me procure, se vier com aquele sorriso no rosto e olhando para os meus malditos olhos que não mudam de cor, porque eu detesto as coisas ditas olhando para o chão.

Apertou a campainha e, em seguida, tomou o rumo para casa. Sem certeza do caminho e se chegaria lá 
até amanhecer. Só queria ter tempo de saber a resposta, daqueles olhos que mudam de cor frequentemente de um jeito engraçado.