quarta-feira, 20 de março de 2013

Ligando a vitrola


Os tão famosos, guardados e esquecidos, LPs.


Já faz algum tempo que eu queria revirar esses discos. Bem, eu moro com os meus avós e isso faz com que eu tenha algumas coisas antigas e um certo conhecimento sobre elas. Dentre essas coisas antigas, estão os discos de vinil do meu avô. Eles ficam guardados comigo já, há algum tempo, no entanto eu nunca os analisei como queria, e hoje (especialmente para esse post) eu dei uma reviradinha de leve e trouxe algumas coisas para vocês verem.

Pra quem não sabe (eu duvido que haja alguém que não saiba, mas enfim, é sempre bom ter uma introdução), discos de vinil -conhecidos também como LP- é uma mídia desenvolvida no final da década de 40 para reprodução musical. Assim como os CDs, fitas de áudio (quando eu era criança elas ainda eram usadas, pois é), e hoje em dia pendrives e celulares, né? 
O aparelho usado para reproduzir as músicas do vinil é o toca-discos, mais conhecido como vitrola. 

Esse é a vitrola do meu avô, a última que sobrou, rs. E, infelizmente, ela não está funcionando, mas em breve esse problema será resolvido (eu espero).
Não vou entrar em detalhes como esse aparelho funciona, mas é interessante dar uma pesquisada no Google, recomendo!

Voltando aos discos do meu avô, eu encontrei muitas coisas bacanas e divertidas. Bem, a maioria é MPB (samba principalmente), tem alguns internacionais e umas misturas bizarras. Mas creio eu, que os discos mais legais e ~importantes~ ficam guardados nos álbuns, que eu não consegui abrir (e acho que nem deveria ter me atrevido a tentar), mas numa próxima eu tento.
Esses são os tão temidos, obscuros e secretos álbuns. Um dia eu descubro o que eles guardam, rs.

Os primeiros que eu peguei para ver e fotografar, foram os "mini-vinis". Bem, eu os chamo assim, mas se não me engano a classificação dos vinis por tamanho é 12, 10 e 7 polegadas, sendo assim, esses abaixo os de 7 polegadas:

Esse disco vermelho, adivinhem só, é um disco infantil da história da baratinha! HAHAHAH, sério gente. Eu lembro que ouvia bastante ele (e uns outros que eu não achei) mas agora não consigo me lembrar da história, senão até faria uma sinopse.
Ainda nos discos de 7 polegadas, eu achei um que costumava ficar o dia inteirinho na vitrola...

A Sinfonia Dos Canários. Essa era a musiquinha de fundo da casa, normalmente. Confesso que era de certa forma irritante, porque pensem: eu moro numa rua super movimentada, acostumada desde que nasci a ouvir barulho de carros, caminhões, ônibus e etc, daí, de repente, vem o canto de passarinhos de uma maneira tão forçada, hahaha. Irritava, mas é bonitinho de se ouvir, traz uma certa tranquilidade.

Agora, de todos os vinis de 7 polegadas o que me chama mais atenção não é nem um disco, é uma capa! 

Eu AMO essa capa. Esse monte de cores, esses desenhos remetendo às décadas passadas. Essa vibe toda "e aí, broto legal?", adoro isso. O disco que tá aí dentro, provavelmente, não é o pertencente à capa. Eu não achei o disco dessa capa e nem faço ideia de qual seja (carece de informações, perdoem), mas que a capa é legal, ah, é! Eu até fotografei cada "personagem" disso aí, separadamente e fiz uma colagem, pra ficar mais fácil a visualização.
              "Disco é cultura beleza." "Quem não gosta de música É CARETA."


Entre os grandes vinis de 12 polegadas, eu encontrei alguns que me deram vontade de fotografar, rs. 





(clique nas imagens para ampliá-las)

Esse primeiro disco é uma regravação de músicas de Gilberto Gil, Chico Buarque de Hollanda e Caetano Veloso, por Claudette Soares, cantora brasileira (apelidada de Princesinha do Baião, por Luiz Gonzaga) apresentada no programa A Raia Miúda, na década de 50.

O segundo disco é de um festival de música popular, com orquestra sinfônica, contendo Polonaise Em Lá Bemol Maior, de Chopin.

E o terceiro disco contém algumas músicas do grupo vocal The Platters, da Era do Rock n' Roll, na década de 50. Pra quem não conhece, foi formado em Los Angeles em 1953, por Tony Williams, David Lynch, Alex Hodge. Passando por várias alterações ao longo dos anos. Chegou a vender mais de 53 milhões de discos e está no Rock And Roll Hall Of Fame desde 1990.



























Esse é o segundo disco do Roberto Carlos, Jovem Guarda, lançado em 1965. Eu, particularmente, gosto dele por causa dessa primeira música aí: Quero Que Vá Tudo Pro Inferno


"Quero que você me aqueça nesse inverno/ E que tudo mais vá pro inferno!"

E, pra fechar com chave de ouro esse post, quero mostrar um encarte/livreto de um disco, que eu simplesmente amei (meu lado de aspirante à designer se sobressaindo novamente).
O disco se chama "100 Anos de Samba" (se não me engano, não é apenas um disco, são vários), e contém inúmeros sambas de vários artistas brasileiros.

Eu tomei a liberdade, mais uma vez, de fazer uma colagem para a melhor visualização. A arte desse encarte é linda, simples, P&B e fantástica. Dá vontade de desmontar e colocar de papel de parede no quarto, sério! E depois dessa pesquisa de hoje, eu realmente me animei pra arrumar a vitrola e comprar uns LPs (corre pros sebos, galerë).

Bom é isso, espero que tenham gostado do post de hoje, a primeira curiosidade sobre o mundinho que me cerca. Devo dedicar (acho meio estranho isso, mas enfim) esse post ao meu amigo Lucas Pessoa, que vive querendo saber dos discos que eu tenho aqui, haha, de certa forma, contruibuiu pra ideia do post.

キスキス Hyume-chan

terça-feira, 5 de março de 2013

Coloque as pedras na frente do sol


Era uma cidade grande e fria, caracterizada por seus invernos rigorosos. Lá, por meados de Julho, no meio do frio intenso, haviam muitas pessoas concentradas no centro histórico da cidade, estavam visitando uma feira que acontecia regularmente. 
Duas pessoas andavam apressadas no meio da feira, mãe e filha. A pequena garota mal entendia o que acontecia no local, apenas observava o tanto que podia à medida que era arrastada pela mãe. Subitamente soltou-se de sua mãe e correu em direção à uma barraquinha um tanto quanto estranha. Haviam poucas pessoas concentradas no local, mas o que chamou a atenção da menina foram alguns potes dispostos em cima de uma banca em frente à barraca. Eram potes de conserva com fetos abortados e órgãos humanos. A garota os olhava apavorada, seus olhos refletiam o conteúdo dos potes e ela parecia não acreditar no que via.
Ouviu-se um barulho e uma senhora encapuzada virou-se para o público. A menina recuou alguns passos, mas seu olhar não se desviara dos potes. A senhora encapuzada esticou uma seda branca por cima da banca, ao lado dos potes. Então a garota desviou o olhar para o rosto da senhora, só podia ver da altura do nariz para baixo. Se assustou com a aparência dela, uma pele pálida, surrada pelos anos de vida.
A misteriosa senhora pegou um dos potes, o que continha um cérebro, e abriu. Colocou o cérebro sob a seda branca e ficou observando-o. As pessoas em volta começaram a rir e gritar alguns insultos, mas a garota observava atentamente o que a senhora fazia. Passado alguns segundos, a senhora tirou de dentro da capa um pequeno frasco com um líquido cor de ametista, o abriu e derramou sobre o cérebro. Aquele líquido escorreu e preencheu todas as pequenas cavidades daquele órgão. A senhora então, enfiou os dedos e começou a dividí-lo em duas partes. Dentro do cérebro já repartido, haviam pequenas pedrinhas, e a senhora tirou uma por uma e levou-as para os fundos da barraca. 
A mãe da menina a procurava desesperadamente por entre as barraquinhas, perguntando à todas as pessoas se a tinham visto, porém não obteve nenhuma resposta satisfatória.
A garota estava bem em frente à banca, onde estava o cérebro divido. O líquido cor de ametista continuava a escorrer pelo cérebro, passando pela seda e pingando ao chão. A menina não entendia muito bem as coisas, mas achou um tanto quanto curioso aquele líquido continuar escorrendo do cérebro ao chão, sem tingir a seda branca. 
Passaram-se poucos minutos e a senhora encapuzada voltou. Colocou as duas partes do cérebro de volta ao pote e o tampou. Pegou a seda e a chacoalhou ao lado da barraca e em seguida a esticou novamente por sobre a banca. Lentamente ela foi tirando alguns colares e os colocando sob a seda branca. Eram seis colares, tendo como pingentes as pedras retiradas do cérebro. Mas ainda havia um na mão da senhora encapuzada. Ela ainda o amarrava, prendendo bem a pedra à corda trançada. Ao terminar seu trabalho, ela fechou o colar em sua mão e ofereceu à garota. A menina hesitou por um momento, mas pegou o colar. Inclinou suavemente a cabeça, em agradecimento, e a senhora a fez sinal para ir.
Assustada, a menina correu desesperada, esbarrando nas pessoas, sem saber para onde ir. Encontrou uma ruazinha vaga, sem muitas pessoas e desceu por ela. Ouviu sua mãe chamá-la a avistou ao lado de uma viatura da polícia, com os olhos cheios de lágrimas. A mãe da menina correu até ela a abraçou, perguntou por onde andou e tratou logo de levá-la para casa. Durante todo o caminho a garota não proferiu uma única palavra, e sua mãe a olhava com certa desconfiança. A garota estava de punhos cerrados em seu colo, escondendo o colar.
A menina chegou em casa e foi direto para o quarto, trancou a porta e sentou na cama. Abriu a mão e começou a analisar o colar. Era uma pedra lisinha, parecia uma bola cortada ao meio, pouco transparente e vermelha, bem vermelha. Funcionava como uma pequena lupa, aumentando bem as letras à medida que passava por elas, e as distorcendo segundos depois. A menina levantou-se e foi até o espelho da penteadeira, colocou o colar no pescoço e decidiu que jamais o tiraria, era algo raro e estranho, se tentasse explicar sabia que ninguém entenderia ou acreditaria.
Estava exausta, o dia tinha sido muito cheio e corrido, deitou-se na cama e ficou a observar o pequeno raio de sol que entrava pela janela. Haviam dias que não se via o sol na cidade, por conta do rigoroso inverno. Sentia suavemente aquele calorzinho que o raio de sol trazia ao tocar sua pele. Adormeceu.
Passaram algumas horas e a menina levantou rapidamente. Estava com as mãos em seu pescoço e carregava uma expressão de dor em seu rosto. Correu até a penteadeira e soltou as mãos do pescoço, havia um ferimento bem profundo, que dava meia volta em torno de seu pescoço. Arrancou o colar e o jogou no chão. Chorando, foi buscar a ajuda de sua mãe. Foi levada ao médico, para examinar e fazer um curativo. Teve de levar alguns pontos no pescoço e várias vezes ouviu os enfermeiros dizerem como tinha tido sorte de não ter perfurado uma artéria. A garota repetia incessantemente que não sabia como tinha acontecido, apenas havia acordado com o ferimento, mas sua mãe insistia em melhores explicações. 
Voltaram para casa e a menina foi descansar, novamente. Era noite, ela se dirigiu ao quarto, acendeu a luz e imediatamente avistou aquele pequeno objeto ao chão. Pegou o colar e o colocou dentro de uma bolsa. Foi uma noite intensa, com poucas horas de sono e nessas poucas horas muitos pesadelos. Logo que amanheceu, ela saiu de casa carregando o colar. Foi até o centro histórico da cidade, devolvê-lo. Caminhou por todos os lados mas não encontrou a barraquinha da senhora encapuzada, decidiu então perguntar às pessoas, mas nenhuma delas se lembrava dessa tal barraquinha misteriosa. Desanimada continuou a andar por entre as barraquinhas do centro histórico, tentando encontrar uma explicação para tudo que lhe vinha acontecendo. Apareceu um raio de sol por entre as nuvens, naquele dia de inverno ainda rigoroso. A garota pegou o colar e ergueu na altura dos olhos, olhando a pedra iluminada pelo sol. Parecia que dentro dela tinham pequenas poeirinhas brilhantes, como uma galáxia dentro da pedra. Essa visão encantou a garota, que sentiu um enorme desejo em jamais se desfazer do colar e decidiu que aceitaria isso. Mas todo o encantamento fora quebrado abruptamente quando a garota percebeu que a sua pedra já não era mais vermelha, estava num tom claro de rosa. Já não era de se esperar que coisas estranhas acontecessem àquele objeto, mas a mudança de cor a intrigou. Seus olhos foram incapazes de perceber essa mudança, em um segundo era vermelha no outro cor-de-rosa.
Decidiu ir para casa, e guardou o colar na bolsa. Deslizou os olhos pela ruazinha de pedras do centro histórico, rapidamente, mas tempo o suficiente para notar algo diferente. Três pedrinhas da rua tinham uma tonalidade diferente, como se houvessem sido manchadas por uma tinta que impregnou na pedra, tornando-a púrpura. Logo lhe veio à mente a imagem da senhora encapuzada chacoalhando a seda branca ao lado da barraca. Agachou-se para poder examinar bem as pedras, viu algo na superfície de uma delas que pareciam ser letras, mas não pôde ler. Lembrou-se da função de lupa que a pedra exercia, e, rapidamente, a tirou da bolsa e passou por cima da pedra. Com certa dificuldade, a garota levou alguns minutos para identificar as letras e lê-las, quando finalmente conseguiu, não entendeu o que queria dizer. "Murex brandaris", estava escrito. Anotou a palavra em um bloco de notas que carregava consigo, levantou-se e foi para casa.
Passaram-se dias, meses, anos e a menina continuava a visitar o centro histórico regularmente, em busca da senhora encapuzada e de respostas para o que lhe havia acontecido. As pedras cor de púrpura iam, à medida que o tempo avançava, voltando à sua cor original, e as inscrições, que numa delas continha, haviam desaparecido completamente.
Pesquisou algumas vezes, e descobriu a origem da inscrição que encontrou na pedra. Era o nome científico de um molusco do qual se extraía o pigmento púrpura. Aprofundou a pesquisa e encontrou uma antiga lenda de uma minúscula ilha - que nunca fora confirmada a existência - no mar Mediterrâneo. 
A lenda das pedras de Assiah.
Uma garota que encontrava as pedras desconhecidas, em lugares nunca revelados, que mostravam lugares do mundo, e além dele, dentro delas. Era só colocar a pedra na frente do Sol, e algo grandioso você conheceria. Uma lenda, apenas uma lenda.
A garota guardou o colar consigo, como havia decido naquele dia de inverno rigoroso no meio do centro histórico da cidade. Mas, com o passar do tempo, deixou de procurar pela senhora encapuzada e a pesquisar sobre as lendas e mistérios que podiam envolvê-la. Mas todos os dias se lembrava, ao olhar no espelho e se deparar com aquela cicatriz ao redor do pescoço, de que coisas surreais acontecem e não devem ser subestimadas.