domingo, 2 de dezembro de 2012

Pisaram em folhas secas


Ouvia desesperadamente as gotas de chuva atingirem o chão. Não acendia as luzes, deixava-se embalsamar pela escuridão. Lembrava-se do barulho de quando pisava em folhas secas.
Alguém lhe chamava do lado de fora, provavelmente querendo abrigar-se da intensa chuva. Abriu a porta e deixou entrar aquele ser desconhecido. Uma criança, coberta por uma capa vermelha, sentou no chão ao lado do sofá.
 - Onde estão seus pais? - Perguntou, porém resposta nenhuma obteve. 
Alguns minutos silenciosos se passaram até que a misteriosa criança ergueu a cabeça para ver o rosto de quem lhe havia abrigado. Era um garoto, aparentava uns seis anos de idade, tinha muitas marcas no rosto e estava bastante sujo. Mas o que mais lhe chamara a atenção foram os seus olhos, dois círculos grandes de um azul puríssimo.
Não sabia o que fazer, o que dizer. Só sabia que o garoto que ali estava palavra nenhuma diria. Sentou-se à sua frente e ficou ali, observando-o. A profundidade dos olhos da criança a levavam para outros mundos, lugares que certamente só em sua imaginação poderia conhecer. Não eram olhos, eram janelas. E através dessas janelas ela viajou, durante meses, pelos quatro cantos do planeta e além dele. Sorriu, dançou, chorou.
E voltou e se deparou com aquela sala escura e uma leve garoa do lado de fora. Mas a criança ali já não estava mais. Abriu a porta e a viu caminhando pela calçada, para lugar nenhum. 
Ouvia o barulho de quando pisavam em folhas secas.