terça-feira, 27 de novembro de 2012

Acabou o tempo.


 Abriu os olhos logo cedo e dirigiu-se à sua rotina. Fez com que tudo parecesse bem, mas não suportava a dor dentro de si, pois aquela cena jamais seria a mesma. 
Desejou durante anos, incessantemente, não ter de voltar para o mesmo lugar, ver as mesmas pessoas, fazer as mesmas coisas. Que ironia. Hoje implorava para que seu desejo não fosse atendido.
Quem dera fosse só a despedida dessa rotina que lhe perturbava a mente, mas haviam os arrependimentos. Os amigos que não fez, as pessoas que ignorou, os momentos que não aproveitou, os sorrisos que não deu, os abraços que negou. Ainda tinha chance de se retratar, mas o bendito do orgulho à impedia. 
Resolveu aproveitar a vida nos seu último instante, e descobriu que de nada lhe valeu viver todos os anos passados. Acreditou no valor das amizades, descobriu que o sorriso se conforta no rosto e sentiu o calor dos abraços. Mas acabou o tempo.
Devia ter dito que o amava, enquanto ele esperava por isso. Devia ter dado aqueles presentes que lhe fizeram lembrar seus poucos amigos durante as viagens. Devia ter acreditado quando lhe disseram que sim. Deveria. 
Era tarde, e ela não quis voltar para casa. Estava muito abalada e confusa, foi andando tropeçadamente até àquele lago, cenário que havia feito parte de inúmeros acontecimentos de sua breve vida. Sentou-se na grama e ficou a observar o leve movimento da água, o agitar dos pássaros, o balançar das árvores. 
Quantas lembranças de sua vida não haviam sido afogadas ali? Quantos bilhetes, pequenos objetos e fragmentos de lembranças não haviam virado comida de peixe? As lágrimas começaram a escorrer, desejava que aquela dor se esvaísse com seu choro. Era insuportável a realidade.
Lembrou-se dos amigos que nunca mais viu, lembrou-se da pré-adolescência quando fugia das responsabilidades para experimentar uma vida adulta de vícios insanos. Como queria viver cada momento, lentamente, novamente.
Finalmente entendeu o que as pessoas queriam dizer quando falavam que o que passou não volta mais. Esqueceram de dizer que não se repete, que não é possível recriar os acontecimentos passados. Não ficam iguais.
Enxugou as lágrimas e voltou para casa. O orgulho ainda a impedia de mostrar o que sentia. Não podia demonstrar-se fraca e arrependida, seu mundo se diluiu mas ainda assim precisava manter sua pose blasé. 
Bem no fundo queria correr e abraçá-los, olhar nos olhos e dizer que vai sentir falta, pedir desculpas, e soltar aquele 'eu te amo' engasgado. Mas acabou o tempo. 


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Entregue os pontos.



Acredito eu, que antes de findar todos os meus sonhos, devo deixar à vocês meus agradecimentos, lembranças e satisfações. 
Na minha concepção de mundo todos vocês estão errados, quero deixar isso claro logo de início. Todos sempre estiveram errados.
 De que lhes adianta iludir  tanto as crianças se elas crescem? E o impacto que elas sentem ao crescer as fazem refletir e tomar decisões como as minhas. Talvez seja essa a intenção.
O falso moralismo nos faz exigir direitos sobre os preconceitos, mas todos somos preconceituosos. Todos somos, sempre seremos. Mas persistem em levantar a bandeira da hipocrisia, deixando-se consumir por ela. Ah, seres humanos, quão fúteis nós somos.
Fazemos da felicidade o nosso princípio de vida, mas nem se quer sabemos que diabos é essa tal de felicidade. Cada um tem uma opinião sobre o que é, sobre o que quer. A verdade é que não sabemos nada e não queremos coisa nenhuma.
Vamos voltar a iludir as pobres crianças. Contar-lhes lindas histórias de amor, para que cresçam acreditando que são incompletas. Deixem-nas sofrer! Deixem-nas provarem a amargura da convivência em sociedade. Tomem o gosto pela realidade e a preferência pela ilusão. Não vivam dispersos mas não se entreguem às circunstâncias.
Eu vi vidas escorrerem pelos olhos, e não pude fazer nada por elas. Não quis.
Gostaria de agradecê-los por tanta ignorância e argumentos sem fundamentos cuspidos na minha cara, me senti superior às suas mentes manipuladas.
Não acabei com a vida, acabei com os sonhos. Estar vivo é relevante, viver é estar em movimento constante. 
Entrarei agora no meu estado de inércia.