domingo, 2 de dezembro de 2012

Pisaram em folhas secas


Ouvia desesperadamente as gotas de chuva atingirem o chão. Não acendia as luzes, deixava-se embalsamar pela escuridão. Lembrava-se do barulho de quando pisava em folhas secas.
Alguém lhe chamava do lado de fora, provavelmente querendo abrigar-se da intensa chuva. Abriu a porta e deixou entrar aquele ser desconhecido. Uma criança, coberta por uma capa vermelha, sentou no chão ao lado do sofá.
 - Onde estão seus pais? - Perguntou, porém resposta nenhuma obteve. 
Alguns minutos silenciosos se passaram até que a misteriosa criança ergueu a cabeça para ver o rosto de quem lhe havia abrigado. Era um garoto, aparentava uns seis anos de idade, tinha muitas marcas no rosto e estava bastante sujo. Mas o que mais lhe chamara a atenção foram os seus olhos, dois círculos grandes de um azul puríssimo.
Não sabia o que fazer, o que dizer. Só sabia que o garoto que ali estava palavra nenhuma diria. Sentou-se à sua frente e ficou ali, observando-o. A profundidade dos olhos da criança a levavam para outros mundos, lugares que certamente só em sua imaginação poderia conhecer. Não eram olhos, eram janelas. E através dessas janelas ela viajou, durante meses, pelos quatro cantos do planeta e além dele. Sorriu, dançou, chorou.
E voltou e se deparou com aquela sala escura e uma leve garoa do lado de fora. Mas a criança ali já não estava mais. Abriu a porta e a viu caminhando pela calçada, para lugar nenhum. 
Ouvia o barulho de quando pisavam em folhas secas.





terça-feira, 27 de novembro de 2012

Acabou o tempo.


 Abriu os olhos logo cedo e dirigiu-se à sua rotina. Fez com que tudo parecesse bem, mas não suportava a dor dentro de si, pois aquela cena jamais seria a mesma. 
Desejou durante anos, incessantemente, não ter de voltar para o mesmo lugar, ver as mesmas pessoas, fazer as mesmas coisas. Que ironia. Hoje implorava para que seu desejo não fosse atendido.
Quem dera fosse só a despedida dessa rotina que lhe perturbava a mente, mas haviam os arrependimentos. Os amigos que não fez, as pessoas que ignorou, os momentos que não aproveitou, os sorrisos que não deu, os abraços que negou. Ainda tinha chance de se retratar, mas o bendito do orgulho à impedia. 
Resolveu aproveitar a vida nos seu último instante, e descobriu que de nada lhe valeu viver todos os anos passados. Acreditou no valor das amizades, descobriu que o sorriso se conforta no rosto e sentiu o calor dos abraços. Mas acabou o tempo.
Devia ter dito que o amava, enquanto ele esperava por isso. Devia ter dado aqueles presentes que lhe fizeram lembrar seus poucos amigos durante as viagens. Devia ter acreditado quando lhe disseram que sim. Deveria. 
Era tarde, e ela não quis voltar para casa. Estava muito abalada e confusa, foi andando tropeçadamente até àquele lago, cenário que havia feito parte de inúmeros acontecimentos de sua breve vida. Sentou-se na grama e ficou a observar o leve movimento da água, o agitar dos pássaros, o balançar das árvores. 
Quantas lembranças de sua vida não haviam sido afogadas ali? Quantos bilhetes, pequenos objetos e fragmentos de lembranças não haviam virado comida de peixe? As lágrimas começaram a escorrer, desejava que aquela dor se esvaísse com seu choro. Era insuportável a realidade.
Lembrou-se dos amigos que nunca mais viu, lembrou-se da pré-adolescência quando fugia das responsabilidades para experimentar uma vida adulta de vícios insanos. Como queria viver cada momento, lentamente, novamente.
Finalmente entendeu o que as pessoas queriam dizer quando falavam que o que passou não volta mais. Esqueceram de dizer que não se repete, que não é possível recriar os acontecimentos passados. Não ficam iguais.
Enxugou as lágrimas e voltou para casa. O orgulho ainda a impedia de mostrar o que sentia. Não podia demonstrar-se fraca e arrependida, seu mundo se diluiu mas ainda assim precisava manter sua pose blasé. 
Bem no fundo queria correr e abraçá-los, olhar nos olhos e dizer que vai sentir falta, pedir desculpas, e soltar aquele 'eu te amo' engasgado. Mas acabou o tempo. 


terça-feira, 13 de novembro de 2012

Entregue os pontos.



Acredito eu, que antes de findar todos os meus sonhos, devo deixar à vocês meus agradecimentos, lembranças e satisfações. 
Na minha concepção de mundo todos vocês estão errados, quero deixar isso claro logo de início. Todos sempre estiveram errados.
 De que lhes adianta iludir  tanto as crianças se elas crescem? E o impacto que elas sentem ao crescer as fazem refletir e tomar decisões como as minhas. Talvez seja essa a intenção.
O falso moralismo nos faz exigir direitos sobre os preconceitos, mas todos somos preconceituosos. Todos somos, sempre seremos. Mas persistem em levantar a bandeira da hipocrisia, deixando-se consumir por ela. Ah, seres humanos, quão fúteis nós somos.
Fazemos da felicidade o nosso princípio de vida, mas nem se quer sabemos que diabos é essa tal de felicidade. Cada um tem uma opinião sobre o que é, sobre o que quer. A verdade é que não sabemos nada e não queremos coisa nenhuma.
Vamos voltar a iludir as pobres crianças. Contar-lhes lindas histórias de amor, para que cresçam acreditando que são incompletas. Deixem-nas sofrer! Deixem-nas provarem a amargura da convivência em sociedade. Tomem o gosto pela realidade e a preferência pela ilusão. Não vivam dispersos mas não se entreguem às circunstâncias.
Eu vi vidas escorrerem pelos olhos, e não pude fazer nada por elas. Não quis.
Gostaria de agradecê-los por tanta ignorância e argumentos sem fundamentos cuspidos na minha cara, me senti superior às suas mentes manipuladas.
Não acabei com a vida, acabei com os sonhos. Estar vivo é relevante, viver é estar em movimento constante. 
Entrarei agora no meu estado de inércia.


sábado, 20 de outubro de 2012

O amor dentro do pote.



Uma palavra dita na hora errada, um fato recém revelado, um frase de grande impacto ou mesmo uma daquelas decepções cotidianas, eram alguns dos fatores que a faziam parar para pensar. Uma garota quieta, tímida mas com os pensamentos bem desenvolvidos. 
Estava chovendo -e isso já era um motivo para ela querer parar para refletir- e ela sentou-se ao lado da janela de seu quarto, observando a movimentação dos pássaros para fugir da leve chuva. Ela queria refletir naquele momento, sobre alguma das infinitas coisas que a vida tem. No entanto, nada lhe veio à mente. Talvez porque as reflexões devem ser momentâneas e não planejadas. 
Fechou os olhos e começou a controlar sua respiração. Respirava lentamente, sentindo o ar encher os seus pulmões. Abriu os olhos e os fez percorrerem pela desordem de seu quarto. E lá em cima da penteadeira estava o tema de sua reflexão naquele dia cinzento. Lentamente levantou-se e caminhou em direção à penteadeira, apanhou um pequeno pote com uma tampa branca e um coração desenhado, dentro dele haviam alguns coraçõezinhos perfumados. 
Logo ela pensou em amor. Corações lembram amor, ela sabia disso, todos sabiam. Lembrou-se dos corações que ela via cravados em árvores, nos cantos dos cadernos das garotas de sua classe, na capa do álbum de casamento de seus pais, no seu pijama favorito, nos comerciais da TV. O amor estava ligado à tudo, inclusive à falta dele. Concluiu que o amor era como aqueles coraçõezinhos perfumados de dentro do pote, bonitos enquanto duram. Aquele perfume uma hora acabaria e então o coraçãozinho seria jogado fora, talvez alguém ainda o guardasse, caso fosse um presente de alguém especial.
Ela tinha um pote cheio deles. Cheio de corações, cheio de amor. Ele estava fechado, esquecido, enquanto muitas pessoas precisavam sentir um pouco do cheiro do amor. Anoiteceu, a menina dormiu e o pote ficou em cima da penteadeira refletindo todos os pensamentos do dia. Passado algumas horas de sono, ela despertou com o som dos pássaros em sua janela anunciando que o sol já nascera. Tomou banho, café da manhã, escovou os dentes e voltou para o quarto, apanhou seu pote de corações e saiu de casa.
Foi andando até uma praça perto de sua casa, sentou-se à sombra de uma grande árvore e ficou vendo o dia passar, sentindo o cheiro dos corações, o cheiro do amor. Seu estômago já roncava e provavelmente seus pais estariam preocupados com seu paradeiro, decidiu voltar. Caminhando lentamente pela grama da praça foi depositando ali alguns de seus corações. 
Ao chegar em casa tranquilizou seus pais, pegou um pedaço de bolo e um copo de suco e subiu para o seu quarto. Sentou-se à janela, como no dia anterior, observando a movimentação dos pássaros em busca de comida. Ainda sentia o cheiro doce dos corações. O sol já estava querendo se pôr quando a garota avistou um grupo de crianças correndo pela calçada com pequenos corações na mão. Lá estavam elas, levando o amor.

As autoras

Como entender um blog sem conhecer, o mínimo que seja, de quem o escreve? Então aqui vai uma breve apresentação das autoras:



Fernanda Lopes, mais conhecida como Hyume Chan. Tenho 17 anos, nascida e criada em Curitiba - PR. Caloura de Design Gráfico na UFPR (perdoem o layout mal trabalhado, hahaha). Amante completa das artes,fã de cultura japonesa (pop e tradicional) desde os três anos de idade. Gosto muito de fotografia e até me atrevo com alguns cliques, ainda não profissional mas caminhando para isso. Adoro literatura, e ler é um dos meus passatempos preferidos. Gosto de rock, assim, para resumir. Numa pegada mais rock antigo, mas curto algumas bandas mais atuais também. Tem gente que jura que eu sou uma personagem de livro, ou que saí de um dos filmes do Tim Burton (até que gosto dessa teoria sobre minha existência). Gosto muito de história e aprender sobre civilizações antigas, como, por exemplo, os egípcios. Tive meu primeiro blog aos 12/13 anos de idade, porém nunca obtive sucesso com ele, nem com os sucessores. 
Escreverei aqui sobre muitas coisas. Curiosidades que eu gostaria de compartilhar, coisas que eu gosto e quero mostrar, coisas que eu aprendi a gostar, fazer e etc. That's all. 
         
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Felicia Loupe. Um devaneio, uma imaginação, um "alguma coisa". Creio que devo ter 19 anos. Acho uma idade interessante, então devo ter mesmo. O local onde eu nasci é irrelevante. E, irrelevante é uma palavra que eu gosto muito. Não saio distribuindo sorrisos, no entanto, não recebo ninguém com pedras nas mãos. Gosto de palavras, de ler, de escrever. Gosto de poesia, de prosa, de monólogos, de peças, de romances. Gosto dos inteligentes e críticos. Minha linha de raciocínio não faz muito sentido, na maioria das vezes, mas eu consigo torná-la um pouco compreensível. Eu vejo a vida com dose doses a mais de melancolia, e isso me torna capaz de desenvolver as ideias e os sentimentos com mais vigor e veracidade em meus contos. São contos, apesar das semelhanças. Caso a "carapuça sirva", lembre-se que são contos, e provavelmente não foram feitos para você, pois não temos nenhuma ligação, não é mesmo? Ou temos, e nem você nem eu sabemos. Gostaria de ter uma coruja chamada Fawkes. Gostaria de fazer muitas coisas, dentre elas falar latim fluentemente e pregar uma peça em algum duende. Esses discípulos de Puck realmente me irritam. Se você acha esse comentário um tanto quanto estranho é porque não acredita em seres fantásticos. E, se você não acredita em seres fantásticos, você é um tanto quanto estranho. Voltando aos meus gostos: eu gosto de experimentar, gosto de experiências. Gosto da psicodelia e de universos alternativos (aliás, eu nasci num universo alternativo. É, eu disse anteriormente que era irrelevante. Não deixou de ser.)
Meu papel no Forgotten Queen é o mesmo de antes, escrever e descrever desejos e críticas de uma mente conturbada. Talvez, ainda, eu lhes dê a honra de desfrutar de alguns fragmentos da história que dá nome à este blog (sintam a arrogância na qual eu escondi a insegurança de publicar essa história). Não sou tão fria, sarcástica e sombria quanto pareço. Apenas discreta nas apresentações. Espero que gostem, comentem e critiquem as postagens. Obrigada pela atenção e paciência ao ler isto, eu espero que sua mente não tenha explodido com a confusão e diversidade de informações.

Forgotten Queen ~


De início o blog foi criado como uma gaveta de contos secretos de Felicia. Porém, com o passar o tempo, conversas e propostas decidiram o novo rumo do Forgotten Queen.
Hoje, escrito por Hyume Chan e Felicia Loupe, Forgotten Queen é bem mais do que apenas a "última gaveta do ármario". A proposta de armazenar os contos de Felicia ainda continua, porém, Hyume vem mostrar um mundo de possibilidades, curiosidades e interesses que cercam sua mente.
O nome Forgotten Queen vem de uma história fantástica escrita por Felicia (e ainda não divulgada), ele foi mantido nessa nova fase por ter uma forte relação com a nova autora. Hyume costumava se impor como uma rainha e até criava cargos em seu reino para seus amigos, uma história irrelevante (porém, engraçada) que estabeleceu uma relação com o antigo nome, que foi mantido.
Sendo assim, as duas autoras dividiram suas tarefas, onde Hyume escreve sobre diversos assuntos de seu interesse, e Felicia escreve seus contos.
Um blog mais abrangente, com fantasia e realidade numa mesma página.
Espero que desfrutem e gostem dessa nova versão do FQ!, agora com mais uma autora e milhões de ideias a serem postas em prática.


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